Gritava Bernardo para provocar o irmão a repetir. Rodrigo ainda falava poucas palavras, entre as quais “vaca”, que significava quase tudo ao seu redor, imaginário ou real. Claro, o irmão movia céu e terra para ouvi-lo dizer vaca e depois ria sem parar. O trânsito estava lento, o calor era sufocante, estávamos cansados...
-Vaca! Vaca! Vaca!
- Bernardo, tá bom... Pare de gritar vaca, por favor!
- Vaca! Vaca! Vaca!
Buzina, suor, cansaço.
-Vaca! Vaca! Vaca!
- Bernardo, se eu ouvir mais uma vez você dizer vaca, vou parar o carro e te colocar de castigo!
- Vaca! Vaca! Vaca!
- Bernardo!
Silêncio.
- Até que enfim! Pensei.
Havia, porém, um cochicho qualquer no banco de trás. Olho pelo espelho e vejo lábios mexendo-se. Esgotado e impaciente, não acreditei. Dizia vaca? Teria coragem? E fecho os vidros da porta, e abaixo o volume do rádio, e diminuo a velocidade do carro, e preparo-me, sem perceber, para esmaga-lo com toda a fúria de pai desafiado:
- Borboleta, borboleta, borboleta... Sussurrando.
Buzina, suor, cansaço e borboleta, dita bem baixinho.
16/12/2011
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário